quarta-feira, 7 de maio de 2014


CHACINA DE IPIAÇU
          Crime que abalou os brasileiros na década de 70, pela violência contra as vítimas, um casal de ricos fazendeiros do município mineiro de Ipiaçu e sua filha grávida. O crime é retratado de forma competente pela delegada Maria de Lourdes Camilli, que fez uma pesquisa científica sobre as circunstancias, fases do Inquérito Policial. até a fase final processual. A fonte de pesquisa foi o Processo de número 2322/1972, arquivado no Fórum de Ituiutaba.
"Triplo homicídio, conhecido como "Chacina de Ipiaçú", ocorrido na madrugada de 23 de agosto de 1972, na sede da fazenda Pontal, no município de Ipiaçu, chamando a atenção em âmbito nacional, da imprensa escrita, falada e televisada, em face da brutalidade da ação delituosa, das idoneidades daqueles que pereceram e das circunstancias e /ou motivos que impulsionaram o autor a vitimar fatalmente e a golpes de marretas o seu pai, mãe e única irmã gestante, no sexto mês de gravidez. Em tempo recorde para uma época de total carência de recursos logísticos e tecnológicos, os policiais civis de Ituiutaba, com a colaboração de policiais civis do antigo DOPS, de Belo Horizonte, elucidaram o fatídico episódio, culminando com a prisão do seu responsável.
As vítimas: José Franco Vilarinho, conhecido como Euzébio Vilarinho, um dos mais ricos fazendeiros daquela região, sua esposa Joana Vieira Vilarinho e a filha Janete Vilarinho Pinheiro.
Os policiais que trabalharam nas investigações:
Delegado Walter Menezes Sales e sua equipe de Ituiutaba: Inspetor Vicente Vieira dos Santos, detetives José Correia, Levi Ferreira Guimarães, Noel Felipe Santiago e o escrivão Ítalo Terêncio José.
De Uberlandia vieram os peritos Silenio José Ribeiro e José Constantino Ferreira.
O DOPS de Belo Horizonte enviou o Inspetor Lúcio Scoralick e os detetives Heraldo Alves da Rocha e Antonio Duarte de Souza. Pelo Departamento de Polícia Técnica, o Delegado Cid Nelson Safe Silveira e o perito Amaro Sales Mariano da Rocha.
                                                       Detetive Scoralick      Delegado Santos Moreira

Consta dos autos do inquérito policial que o vaqueiro João Morais Pessoa encontrou os corpos das vítimas, por volta das 6:30 da manhã e à cavalo, se dirigiu até a cidade de Ipiaçu, para solicitar a ajuda do farmaceutico Wander Alves Paranaíba (proprietário do único telefone da cidade)...que trataram de acionar a Polícia Civil de Ituiutaba e de espalharem aquela triste notícia que se difundiu, feito rastilho de pólvora, por toda a região do pontal do Triangulo Mineiro.
 
Os policiais civis ao chegarem ao local da chacina verificaram que as portas e janelas não haviam sido arrombadas e ao lado das vítimas havia uma carteira com dinheiro, o cofre também não havia sido arrombado e os relógios e as alianças não foram subtraídos. No chão, em meio às poças de sangue impressões de pés descalços que desenhavam o trajeto do criminoso quando caminhou no interior da casa. As necrópsias foram realizadas pelos médicos legistas Renato Lansac Patrão e José Claudionor Franco que atestaram as mortes por traumatismos cranianos, com perda de massa encefálica.
Pela falta de peritos em Ituiutaba, um fotógrafo de Capinópolis foi convocado pela polícia para registrar a cena do crime. No caso ocorreu ainda a influencia política por parte de Jorge Zacharias Junqueira, tio da esposa do Governador Rondon Pacheco e vizinho da fazenda Pontal, responsável pela designação dos policiais do DOPS para apoio às investigações. A perícia moldou em gesso a marca deixada pelos rastros dos pneus do criminoso, que coincidiu com os pneus do Corcel 1972, visto com José Divino Vilarinho, na noite anterior em Ituiutaba e na manhã do crime em um posto de gasolina onde deixara para lavar e encerar, porque estava sujo de poeira e terra vermelha.
Na mesma noite após a descoberta dos corpos, o delegado Walter ouviu testemunhas que nortearam as investigações e apontavam que a família Vilarinho havia sido exterminada pelo próprio filho e irmão - José Divino Vilarinho. Várias testemunhas o descreveram como um rapaz rebelde, preguiçoso, fanfarrão, perdulário, um verdadeiro playboy, que exigia dos pais, muito dinheiro e carros da moda para manter-se cercado de garotas. Apurou-se que dias antes dos crimes, comentara com algumas pessoas ter recebido um telefonema com ameaças de morte contra seu pai. Comentou com um de seus primos que, se sua família toda morresse, seria ele, "Zé Gordinho", o único herdeiro da fortuna dos Vilarinho. Dois dias antes das mortes, "Zé Gordinho" esteve com seu pai para lhe pedir a quantia de quinze mil cruzeiros destinados a quitar a dívida de um cheque sem fundos utilizado para a compra de um Ford Galáxie 1967, adquirido à revelia dos pais. Várias pessoas assistiram a discussão entre filho e pai, que acabou assumindo a dívida diante da insistência de "Zé Gordinho". Descobriu-se ainda, através de depoimentos que no dia 23 de agosto de 1972, "Zé Gordinho" trocou seu Galáxie pelo Ford Corcel de seu amigo Jorge Calil, sob a alegação de que sairia com uma mulher casada. No dia seguinte, devolveu o carro, por volta das 6:30 horas da manhã, no posto de gasolina do Omar. O carro estava todo sujo de terra. De lá, junto com Jorge Calil e outro amigo se dirigiram para uma pescaria no "Poção de Capinopólis". Quando se encontravam no meio do rio, foram procurá-lo para dar notícia das mortes dos seus pais e de sua irmã. Segundo consta dos autos, sua frieza demonstrada diante de tão triste notícia, causou espanto aos presentes.
Em 29 de agosto de 1972, José Divino Vilarinho confessou a autoria dos três homicídios a golpes de marreta, reconstituindo-o, com riqueza de detalhes. A violência do golpe desferido em sua irmã Janete, fez a marreta se desprender do cabo, o que o obrigou a caminhar no escuro sobre o sangue que se esparramava pelo chão. com o início do processo foi travada uma ferrenha batalha processual, mesclada de peripécias, artimanhas vis, acusações de tortura e corrupções denunciadas pelos diversos jornais de nosso país, provocando outras investigações por parte das corregedorias de polícia e de justiça.
Foram investigados o carcereiro João Batista Guimarães e os policiais militares que faziam a guarda da cadeia de Ituiutaba por corrupção. Também o juiz José Wilke Moreira Assir foi afastado do quadro ativo, demonstrando que a força da fortuna de "Zé Gordinho"imperava."
Os melhores advogados criminalistas da época foram contratados pelo assassino covarde. Do outro lado, também, grandes nomes na acusação. O cenário para um grande espetáculo estava montado.
"Zé Gordinho" contou com o auxílio dos advogados de defesa Heleno Cláudio Fragoso, Fernando Fragoso, Hélio Benício de Paiva, Marcelo Leonardo, Lincoln Ávila Borges, Sizenando R. Barros Filho, Gerson Abrão e Luiz Carlos da Silva. A promotoria contou com o auxílio dos advogados Winston Peres Drumond, Lajosé Alves Godinho, José dos Santos Villela Júnior e Ariosvaldo Campos Pires. Foram interpostos diversos recursos de apelação, "habeas corpus", postulação de exame de sanidade mental, desaforamentos da praça de julgamento, embargos infringentes, indultos de natal, dentre outros.
O juízo da 1ª Vara Criminal de Ituiutaba determinou em 1974 a internação na Casa de Saúde Santa Clara para exame de sanidade mental. O delegado Santos Moreira da Silva, Corregedor Geral, determinou investigações para apuração de notícias vinculadas por jornais registrando que "Zé Gordinho" não permanecia internado e frequentava acintosamente dia ou à noite, os bares e restaurantes mais badalados do alto da Avenida Afonso Pena e Pampulha, na capital, na condução de motocicletas, ora participando de rachas, dirigindo veículos potentes. Tal situação provocou a remoção de "Zé Gordinho" para a cadeia de Ituiutaba. No primeiro julgamento José Divino Vilarinho foi condenado a sessenta e seis anos de reclusão por sete votos a zero".
Em 1978, ocorre uma reviravolta no caso, quando o advogado Heleno Cláudio Fragoso arguiu que o verdadeiro assassinos da família Vilarinho seria Luiz Carlos Gonzales, recluso da Penitenciária de Carandiru, em São Paulo. Teria como co-autor outro detento do mesmo estabelecimento penal, Renato Santos Pereira. O crime teria sido confessado ao detetive da polícia mineira, Antonio Durante. Com essas informações, o juiz José Wilke Moreira Assir colocou "Zé Gordinho" em liberdade. O Secretário de Segurança Washington Flores determinou aos delegados Mário Zucato Filho, regional de Uberaba e Paulo Sérgio Schettino da Superintendência de Polícia Judiciária e Correições que investigassem a história do policial Antonio Durante e outra que envolvia o mesmo policial e seu companheiro Diógenes Morilo da Silva na facilitação de fuga, mediante suborno, do ladrão de carros José Sebastião Borges, o "Zé Amado". Por "coincidência", esse marginal era parceiro de crime de Luiz Carlos Gonzales. O ardil foi descoberto através dos exames periciais dos grafismos das três correspondências que foram postadas para as delegacias de Sacramento e Uberaba, restando a Luiz Carlos Gonzales confessar que lhe fora proposto o pagamento de duzentos mil cruzeiros para que ele sustentasse a farsa com o fim de inocentar "Zé Gordinho"e cinquenta mil cruzeiros para seu amigo Renato.
          José Vilarinho foi condenado e teve como pena definitiva, vinte e cinco anos de reclusão, dos quais cumpriu cerca de dez, sendo liberado em 1984 por indulto de natal.
                                                                                

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