1. A DECISÃO DE CONSTRUIR O CATETINHO
"Tudo começou numa conversa de bar."1
"(...) A idéia de construir uma casa (o Catetinho) para dar de presente ao Presidente Juscelino, no Planalto Goiano, nasceu a 12 de outubro de 1956 no apartamento de número 512, do Hotel Ambassador, no Rio, onde se hospedava César Prates, seresteiro mineiro e de bela voz. Ali João Milton Prates, ex-comandante e piloto da FAB, tendo servido a Juscelino no Governo de Minas, em conversa com seu irmão César Prates e os engenheiros José Ferreira (Juca) Chaves e Roberto Penna, sugere aos demais fazer uma surpresa ao presidente Juscelino, de quem eram amigos. Esta idéia surge em face de estar o engenheiro Israel Pinheiro no propósito de aceitar a oferta de trinta barracas de lona, feita pelo Ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott. O grupo acha, então, que não ficaria bem o Presidente ‘pousar em barraca’. Daí a sugestão de ser construída uma casa de madeira.
A surpresa consistia em que um grupo de amigos se cotizasse e construísse uma casa, mesmo de madeira, para dar de presente ao Presidente no local aonde iria ser a nova Capital.
A proposta é logo aprovada, especialmente porque no grupo se encontram dois engenheiros.
Do apartamento, o grupo de quatro amigos vai ao 'Jucas Bar', tradicional ponto de encontro situado no 'hall' do Hotel Ambassador, onde Niemeyer e outros amigos os aguardam. Além de Niemeyer, ali se encontram o compositor Dilermando Reis, o jornalista e compositor Emydio Rocha, de Belo Horizonte, e Vivaldo Lyrio, técnico em aeronaves.
Apresentada a proposição, é por todos aprovada. Oscar Niemeyer pede ao garçom Osório Reis uma folha de papel e, ali mesmo, esboça um croquis do que seria 'a casa presidencial'. Logo, Juca Chaves e Roberto Penna calculam o custo da obra, que é orçado em quinhentos mil cruzeiros.
Para executores da idéia, o primeiro problema a ser resolvido seria os quinhentos mil cruzeiros. César Prates, que servira no Banco do Brasil, em Minas, dá os caminhos de como 'levantar' aquela importância, ou seja, através de um empréstimo bancário. Propõe manter entendimentos com seu irmão Carlos Prates que exerce as funções de gerente do Banco do Brasil em Belo Horizonte.
Logo surge, da papelaria mais próxima, uma promissória. João Milton Prates assume a responsabilidade do empréstimo, com o apoio de Juca Chaves e Oscar Niemeyer, duas figuras também bastante relacionadas e de crédito na praça de Belo Horizonte.
Durante ainda aquele encontro (que Osório Reis assiste na qualidade de garçom da preferência do grupo) são igualmente aceitas outras idéias;
- que o arquiteto Oscar Niemeyer, no menor prazo possível, daria um projeto definitivo com base naquele croquis que apresentara;
- que o jornalista Emydio Rocha (o Rochinha) viajaria, no dia seguinte, a Belo Horizonte para resolver o assunto do dinheiro, dentro da sugestão apresentada por César Prates, ou seja, empréstimo bancário;
- que o engenheiro Roberto Penna se encarregaria da execução do projeto de Niemeyer, devendo, de imediato, viajar para Minas a fim de tomar todas as providências de aquisição de material e contratação de pessoal;
- que todos se encontrariam no local da 'casa presidencial' na região da futura Capital, nove dias depois, no dia 21 de outubro, para o início das obras;
- que a inauguração ocorreria no dia 1º de novembro, devendo estar concluída um dia antes, isto é, a 31 de outubro;
- que todos devem guardar absoluto segredo sobre o assunto, pois a intenção de todos é a de fazer uma surpresa ao presidente Juscelino, ao ser habilmente convidado para ir ao local no dia 1º de novembro.
UM PALÁCIO DE TÁBUAS
Em menos de vinte e quatro horas, o arquiteto Oscar Niemeyer conclui, no dia 13 de outubro de 1956, o projeto definitivo do 'Palácio de Tábuas' para servir ao Presidente Juscelino durante a construção da futura Capital no Planalto Goiano. Fundamenta-se no croquis que ideara, um dia antes, para um grupo de amigos, no 'Jucas Bar', no Rio de Janeiro. Um projeto simples, de fácil e rápida execução. Niemeyer tem em mente encontrar uma solução que, mesmo com a característica de 'provisória', não coloque o Presidente ao rés-do-chão, imaginando, assim, os aposentos presidenciais e a sala de despachos numa posição pouco elevada de um primeiro andar, o que ofereceria também uma visão panorâmica da região. No térreo, ficaria a parte de serviço.
Igualmente, preocupa-se o arquiteto em projetar uma construção que pudesse ser executada no exíguo prazo proposto de dez dias. Daí, a utilização bastante acentuada de tábuas e toras de madeira em todo o conjunto a ser edificado. Com o emprego de madeira, ao invés de tijolos ou concreto, grande parte da construção poderia ser executada com recursos materiais existentes na própria região, que Niemeyer conhecera cerca de uma semana antes.
Assim, a casa seria, na sua quase totalidade, construída de tábuas, o que leva o grupo a dar, na intimidade, uma denominação orgulhosa ao empreendimento:
- Um Palácio de Tábuas.
Tudo está planejado e projetado com muito idealismo e decisão de fazer. Cumpria, agora, ao jornalista Emydio Rocha viajar para Belo Horizonte a fim de transformar em dinheiro uma promissória de quinhentos mil cruzeiros. E ao engenheiro Roberto Penna, já de posse do projeto Niemeyer, tomar as providências para levantar o Palácio de Tábuas, podendo, para isso, adquirir o material necessário e contratar o pessoal competente, contando com o dinheiro que Emydio iria conseguir em Belo Horizonte, o que é, por todos, no entusiasmo natural, tido como líquido e certo.
Ambos – o jornalista Emydio Rocha e o engenheiro Roberto Penna – seguem para Belo Horizonte domingo cedo, dia 14.
Em Belo Horizonte, Emydio Rocha amanhece, na segunda feira, obedecendo as instruções de César Prates de como transformar em dinheiro uma promissória de quinhentos mil cruzeiros e cuja arte do 'papagaio' já é de seu conhecimento.
O ponto de partida é Carlos Prates, irmão de João Milton e César Prates e figura muito bem relacionada no meio bancário mineiro. Não podendo resolver o assunto pelo Banco do Brasil, no qual é gerente, encontra solução através do Banco de Minas Gerais.
E, no dia seguinte, terça feira 16, o dinheiro já está à disposição do grupo, em nome de João Milton Prates.
O primeiro obstáculo está vencido.
Por sua parte, o engenheiro Roberto Penna, chegando a Belo Horizonte, cuida logo de tomar uma série de providências para aquisição de material e contratação de pessoal para a obra, pois até sábado, em menos de uma semana, já deveria estar no local da nova Capital. E a construção do 'Palácio de Tábuas' deveria ser iniciada no dia 22, segunda-feira, com a participação dos demais amigos que, do Rio de Janeiro, seguiriam para a região e aonde chegariam naquela data.
Num contato com o engenheiro Bretas Bhering, diretor da FERTISA – uma fábrica de adubos que o então governador Juscelino Kubitschek havia criado em Araxá – Roberto Penna consegue, por empréstimo, uma patrol, um jipe e um grupo gerador. Em Araxá, mais um amigo adere à iniciativa – o comerciante e aviador Agostinho Montandon. (...)"2
Nenhum comentário:
Postar um comentário